Brasil

Textos Jarawaras Interlineares Vol. 2

Introdução

Esta é a segunda edição prometida de textos jarawaras interlinearizados. Ao contrário do primeiro volume (Vogel 2012), que é composto de textos interlinearizados com o programa Toolbox, os textos do presente volume foram interlinearizados com o programa Fieldworks Language Explorer (FLEx).1

Comecei a gravar os textos em 1987. Os textos foram originalmente gravados em fita cassete (os primeiros textos) ou em forma digital (os últimos textos), e transcritos com a ajuda de alguns jarawaras alfabetizados: Bibiri, Yasito, Soweo, Kakai, Ati Hiwawawi, Mioto, Tanieo, Saiba, Eti, Arimana, Soki, Kona Abono, Rosiano, Hotiriko, Atere, Etiso, Betiro, Sesowe, Erieti, Bai Nafira, Firibi, Atoni, e Maira. Muitas dúvidas foram resolvidas em sessões com Okomobi e Bibiri, que têm um dom especial para a linguagem; e Botenawa e Kamo também ajudaram a resolver algumas questões. As gravações foram feitas na aldeia Casa Nova, onde moram os autores. 2 O nome do autor de cada texto está no início do texto. Cada autor, ou um parente se o autor está falecido, deu autorização para usar os textos para fins não comerciais.

Os textos não devem ser vistos como textos escritos editados. Todos os textos são originalmente textos orais, nenhum dos textos foi originalmente escrito. Além do mais, as trancrições não procuram revisar o que foi falado. Isso significa, por exemplo, que começos errados, repetições de palavras, e erros de gramática ocasionais são retidos nas transcrições. Em alguns casos são discutidos em notas de rodapé, mas a maioria não é.

Os textos estão divididos em dois grupos, as narrativas de experiências pessoais e as histórias tradicionais. Muitas das narrativas de experiências pessoais são contadas por um participante, mas muitas outras são contadas por um não participante. Algumas destas últimas relatam eventos de um passado remoto, mas que dizem ser do tempo de pessoas que, mesmo que os narradores não tenham conhecido elas pessoalmente, pelo menos sabiam a sua ligação de parentesco com elas (por exemplo, o bisavô que morreu antes do narrador nascer). Em contraste, as histórias tradicionais concernem um passado mais distante.

O seguinte formato é usado para cada texto. No início está uma tradução livre, e depois segue o texto em formato interlinear. A primeira linha do formato interlinear é ortográfica. A segunda linha representa as formas subjacentes3 e as divisões morfêmicas. Na terceira linha estão as glosas de cada morfema. A quarta linha representa as classes das palavras.4 Na última linha está a tradução de cada frase. Esta tradução de cada frase é a mais literal possível, em contraste com a tradução livre no início de cada texto, que procura expressar o significado do texto em português mais normal. Na tradução livre, algumas informações implícitas estão adicionadas, a referência a participantes (por exemplo, a escolha de um pronome ou sintagma nominal) segue as normas do português, e algumas repetições são omitidas.

Observe que alguns períodos em jarawara são extremamente compridos, porque às vezes muitas "orações dependentes" podem ocorrer juntas. Para mais informações sobre as orações dependentes em jarawara, o leitor deve consultar Dixon (2004) e Vogel (2009).

A ortografia Jarawara basicamente é fonêmica e transparente, com a exceção de não distinguir as vogais longas. Uma explicação da ortografia se encontra no meu Dicionário Jarawara- Português, que está disponível na internet. Nas formas subjacentes da segunda linha, se usa o símbolo I para representar um morfofonema que se realiza como i ou e, dependendo do número de moras precedentes na palavra.

Na linha ortográfica tenho usado a pontuação de forma normal, com uma exceção importante. Enquanto que normalmente se usa a vírgula para indicar as pausas gramaticais, eu tenho usado as vírgulas para indicar as pausas fonéticas. Alguns leitores podem achar isso esquisito, já que as pausas às vezes ocorrem no meio da frase e por nenhuma razão gramatical – os falantes às vezes pausam apenas para pensar no que vão dizer – mas eu queria registrar essa informação, e não pensei em outra maneira de registrá-la.

As abreviaturas usadas são as seguintes:

1 - primeira pessoa

HAB - habitual

PI - passado imediato

1EX - primeira pessoa plural exclusiva

HIPOT - hipotético

PL - plural (dois ou mais)

1IN - primeira pessoa plural inclusiva

IMED - immediato

pn - substantivo de posse inalienável

2 - segunda pessoa

IMP - imperativo

POSS - possuidor/possessivo

3 - terceira pessoa

INC - incoativo (mudança de estado)

PR - passado recente

adj - adjetivo

INT - intentivo

prt - partícula

ADJU - adjunto

interrog - proforma interrogativa

RECIP - recíproco

adv - advérbio

IPAR - interrogação parcial

REFL - reflexivo

ALT - modo alternativo

ISN - interrogação de sintagma nominal

REP - reportivo

antip - antipassiva

LIST - construção de lista

result - resultativo

AUX - auxiliar

LOC - locativo

S - sujeito

CAUS - causativo

+M - concordância masculina

SEC - verbo secundário

COMIT - comitativo

mpropn - nome próprio masculino

SG - singular

CONT - continuativo

N - não testemunhado

som - palavra que expressa som

CNTRFAT - contrafatual

NEG - negativo

sp - espécie

DECL - declarativo

NEG.LIST - item negativo de lista

SUPER - superlativo

DIST - distante

nf - substantivo feminino

T - testemunhado

DISTR - distributivo

NFIN - não finito

vc - verbo copular

DUP - reduplicação

nm - substantivo masculino

vb - verbo bitransitivo

+F - concordância feminina

NOM - nominalização

vi - verbo intransitivo

F.PL - plural e feminino

O - objeto direto

voc - vocativo

fpropn - nome próprio feminino

OC - construção "O"

vt - verbo transitivo

FUT - futuro

PD - passado distante

 

O leitor que quiser mais informações sobre a sintaxe, morfologia, e fonologia de jarawara deve consultar a gramática de R.M.W. Dixon (2004), The Jarawara Language of Southern Amazonia, e a introdução do meu Dicionário Jarawara-Português.

O leitor que tiver qualquer comentário ou dúvida está convidado a entrar em contato comigo pelo endereço [email protected].


Notas de Rodapé

1 Tanto Toolbox como FLEx estão disponíveis para download grátis no site do SIL International (sil.org).

2 Os aproximados 230 falantes de jarawara vivem na reserva indígena Jamamadi-Jarawara no município de Lábrea, AM.

3 Com a segunda linha tem-se a intenção de representar as formas subjacentes fonológicas, inclusive as vogais longas, que não são representadas na ortografia do jarawara. Porém em alguns casos a forma subjacente é mais morfológica do que fonológica. Em jarawara existem alternações de vogais nos verbos que são reflexos de processos gramaticais, especificamente concordância de gênero e a derivação de formas não finitas. Onde é possível determinar a forma subjacente morfológica, uso esta e não todas as formas que resultam de processos gramaticais. Por examplo, o sufixo -ma ‘de volta’ tipicamente tem esta forma única nos contextos em que não há concordância de gênero, enquanto que tipicamente tem a alternação -ma/-me em outros contextos, para indicar concordância feminina ou masculina, respectivamente. Uso -ma como forma subjacente em todos os contextos, mas indico a concordância de gênero na segunda linha ('de volta+F' ou 'de volta+M') em todos os contextos em que a forma indica a concordância de gênero normal de frases finitas.

Semelhantemente, a forma não finita de um radical verbal se deriva mudando a final para i, mas uso a forma com a como a forma subjacente, mesmo quando se trata de forma não finita, mas no caso de forma não finita acrescento NFIN. Por exemplo, dou a forma subjacente de fawa 'beber', que é fawi, como fawa.NFIN. Uma das vantagens de fazer assim é que fica muito mais fácil fazer uma busca por todas as ocorrências de um determinado morfema. Além disso, com este recurso é possível indicar que determinada forma é não finita mesmo não existindo a mudança de a para i, como é o caso dos verbos que terminam com o, i, ou e.

Em jarawara existe uma construção chamada "construção de lista", e uma das manifestações desta construção é que não tem concordância de gênero no radical verbal. Quando este é o caso, indico isso na segunda linha. Por exemplo, quando fawa está numa construção de lista, isso se indica na segunda linha como fawa.LIST. Assim, o leitor sabe porque o a no fim do verbo não está indicando concordância feminina nesse caso. (Sendo que os itens numa lista às vezes são sintagmas nominais, estes também são marcados da mesma forma.)

Existe mais uma construção que é marcada na segunda linha, que são as frases nominalizadas. Essas formas verbais são marcadas com NOM, e o gênero é indicado quando a forma o indica, isso é, NOM+F ou NOM+M. Desta forma distingue-se esta concordância de gênero da concordância normal de frases finitas.

4 Isso representa uma mudança em relação ao vol. 1, em que a classe de cada morfema foi dada, e não a classe da palavra inteira.


Referências

Dixon, R.M.W. 2004. The Jarawara language of Southern Amazonia. Oxford: Oxford University Press.

Vogel, Alan. 2009. Covert tense in Jarawara. Linguistic Discovery 7:43-105.
http://journals.dartmouth.edu/cgi-bin/WebObjects/Journals.woa/xmlpage/1/article/333

Vogel, Alan. 2012. Textos Jarawaras interlineares vol. 1.
http://www.silbrasil.org.br/recursos/textos_jarawara_interlineares_vol_1

Vogel, Alan. 2016. Dicionário Jarawara-Português.
http://www.silbrasil.org.br/resources/archives/72030


Lista dos Textos

Parte I - Narrativas de Experiências Pessoais:

áudio (8m 04s)

Kamo (1990)

áudio (9m 23s)

Yowao (1991)

áudio (1m 03s)

Yowao (1991)

áudio (6m 27s)

Vermelha (1987)

áudio (1h 16m 23s)

Siko (1992)

áudio (21m 30s)

Siko (1992)

áudio (47m 51s)

Siko (1992)

áudio (12m 20s)

Siko (1992)

áudio (29m 02s)

Siko (1992)

áudio (29m 58s)

Yowao (1992)

áudio (5m 03s)

Yowao (1992)

áudio (5m 38s)

Okomobi (1992)

áudio (6m 30s)

Okomobi (1992)

áudio (3m 58s)

Wero (1999)

áudio (8m 03s)

Okomobi (1999)

áudio (1m 46s)

Manoware (1999)

áudio (2m 20s)

Kakai (2002)

áudio (2m 51s)

Wero (2003)

áudio (9m 39s)

Okomobi (2005)

áudio (8m 39s)

Wero (2007)

áudio (12m 37s)

Kofeno (2008)

áudio (5m 42s)

Okomobi (2008)

áudio (8m 13s)

Okomobi (2008)

áudio (11m 36s)

Okomobi (2008)

áudio (10m 50s)

Okomobi (2008)

áudio (6m 43s)

Manoware (2009)

áudio (2m 24s)

Bakoki (2011)

áudio (7m 59s)

Okomobi (2011)

áudio (12m 39s)

Asaka (2011)

áudio (3m 03s)

Botenawa (2011)

áudio (2m 13s)

Kakai (2011)

áudio (0m 51s)

Kakai (2011)

áudio (8m 59s)

Wero (2012)

áudio (18m 26s)

Wero (2012)

áudio (9m 05s)

Bibiri (2012)

áudio (4m 29s)

Okomobi (2012)

áudio (10m 55s)

Okomobi (2013)

áudio (9m 13s)

Okomobi (2013)

áudio (7m 36s)

Wero (2013)

áudio (4m 36s)

Manoware (2013)

áudio (11m 18s)

Okomobi (2014)

áudio (6m 09s)

Wero (2014)

áudio (10m 48s)

Wero (2014)

áudio (1m 09s)

Maira (2015)

áudio (9m 29s)

Okomobi (2015)

áudio (9m 03s)

Okomobi (2016)

áudio (3m 47s)

Okomobi (2016)

áudio (11m 09s)

Bibiri (2016)

áudio (3m 19s)

Kakai (2016)

áudio (2m 49s)

Okomobi (2017)

áudio (4m 40s)

Wero (2017)

áudio (4m 03s)

Kakai (2017)

Parte II: Histórias Tradicionais

áudio (8m 00s)

Amoro (1987)

áudio (4m 46s)

Yowao (1991)

áudio (0m 45s)

Yowao (1991)

áudio (2m 17s)

Yowao (1991)

áudio (12m 43s)

Siko (1991)

áudio (12m 04s)

Siko (1991)

áudio (6m 24s)

Amoro (1991)

áudio (13m 54s)

Yowao (1991)

áudio (8m 03s)

Yowao (1991)

áudio (7m 57s)

Yowao (1991)

áudio (1m 32s)

Yowao (1991)

áudio (21m 57s)

Siko (1991)

áudio (7m 16s)

Siko (1991)

áudio (1h 25m 03s)

Siko (1991)

áudio (18m 26s)

Siko (1992)

áudio (1h 10m 46s)

Siko (1992)

áudio (1h 5m 27s)

Siko (1992)

áudio (55m 33s)

Siko (1992)

áudio (5m 42s)

Siko (1992)

áudio (18m 42s)

Siko (1992)

áudio (16m 17s)

Siko (1992)

áudio (12m 09s)

Siko (1992)

áudio (8m 16s)

Siko (1992)

áudio (5m 39s)

Siko (1992)

áudio (24m 26s)

Siko (1992)

áudio (13m 59s)

Siko (1992)

áudio (14m 00s)

Siko (1992)

áudio (4m 32s)

Siko (1992)

áudio (14m 16s)

Siko (1992)

áudio (15m 23s)

Siko (1992)

áudio (27m 05s)

Siko (1992)

áudio (15m 25s)

Siko (1992)

áudio (38m 50s)

Siko (1992)

áudio (18m 47s)

Siko (1992)

áudio (6m 44s)

Siko (1992)

áudio (7m 00s)

Siko (1992)

áudio (15m 40s)

Siko (1992)

áudio (21m 53s)

Siko (1992)

áudio (18m 13s)

Siko (1992)

áudio (8m 25s)

Siko (1992)

áudio (19m 43s)

Siko (1992)

áudio (9m 15s)

Siko (1992)

áudio (7m 48s)

Yowao (1992)

áudio (18m 40s)

Yowao (1992)

áudio (4m 02s)

Yowao (1992)

áudio (5m 04s)

Kasawara (1992)

áudio (7m 07s)

Yowao (1993)

áudio (6m 48s)

Wero (1999)

áudio (7m 24s)

Okomobi (2008)

áudio (13m 52s)

Okomobi (2008)

áudio (12m 31s)

Wero (2012)

áudio (4m 17s)

Wero (2013)

áudio (6m 10s)

Wero (2013)

áudio (9m 31s)

Wero (2013)

áudio (13m 06s)

Okomobi (2015)

áudio (11m 04s)

Bibiri (2016)

 

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